
Uma artista com olhar revelador da natureza oculta na cidade. Esta foi a minha impressão ao assistir o documentário de Alex Minkin sobre o trabalho de Luz Castaneda, bióloga e artista plástica brasileira que vive em Nova Iorque.
Quem se dedica à arte, de alguma forma revela um saber que vai além do que a lógica científica demonstra. O escritor argentino Ernesto Sábato, que antes de ser escritor consagrado foi renomado cientista, escreveu que: O conhecimento de vastos territórios da realidade está reservado para a arte e somente para ela.”
Sábato estava preocupado com os limites entre ciência e arte, já o trabalho de Luz Castaneda causa impacto por incorporar um terceiro elemento a esta dicotomia. Além da ciência e da arte, a artista mergulha a sua força criativa na religião de matriz africana, a Umbanda, tal como praticada no Brasil. A artista, plena de sensibilidade, busca o caminho ainda mais difícil, que é o da releitura de uma tradição fora do contexto original onde o reino dos Orixás se revela. Existe um risco para o artista transitar entre os universos da ciência, da arte e do sagrado. Luz resolveu correr este risco.
Onde estão os Orixás quando não existe a mata? Onde se escondem quando o olhar de quem os busca não é o olhar do homem e da mulher africanos? Onde estão quando o olhar da artista e pesquisadora se dirige para a selva de pedra, para as esquinas da Big Apple, distantes das forças da natureza que afloram da cultura afro-brasileira? A resposta a estas indagações se apresenta pela via da alma da artista, cuja sensibilidade é capaz de identificar – nos traços deixados pela natureza, nas raízes expostas, nas obras de outros artistas, no encontro entre o doce do rio e o mar salgado, nos ruídos urbanos, e no concreto – a essência da vida que ali permanece.
Luz Castaneda ilumina com seu traço, o estreito caminho que a vida moderna nos obriga a seguir. O caminho marcado pela perda dos rituais, pela destruição da floresta e da natureza, pela ausência do tempo da contemplação. A artista consegue conversar com a sua Preta Velha, como ela afirma, na foz de um rio em Nova Iorque. O vídeo teve a competência de capturar a luz da artista, com imagens que reafirmam a mensagem central de Luz, a mensagem da busca pelo sagrado presente no mundo sem rituais da selva de pedra.
O olhar revelador do oculto interessa além da Umbanda. A essência dos Orixás é explicada na obra do Professor Prandi, de modo particular no livro A Mitologia dos Orixás. A guerra, as interpéries, os movimentos, o mar e os rios, são fenômenos universais representados por Ogum, Xangô, Exú, Iemanjá, Oxum. Segundo a tradição, estas entidades mitológicas, sagradas para alguns, permanecem ao nosso redor tal como estavam nas terras de onde o povo negro foi arrancado, mas não desenraizado.
O olhar revelador do oculto é o que a arte, na sua mais bem elaborada prática, nos traz, por meio do trabalho de Luz Castaneda e de Alex Minkin que produziu o filme, ele também um cientista-artista, estudioso da antropologia da religião e das conexões entre o judaísmo e outras culturas. Os artistas capturaram a magia da permanência do sagrado na selva de pedra, do cheiro da terra presente no asfalto, do som das águas na Quinta Avenida.

Decio Zylbersztajn
Escritor
Vim, vi e venci !!! Não sei se está correto mas foi isso que aconteceu!! Você conseguiu!! Parabéns minha querida!!!!
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Uma busca corajosa e linda que a cada dia encontra os belos mistérios da vida através da arte.
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uma busca profíqua
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